A primeira fase de povoamento iniciada no século XVII foi marcada pela procura do ouro, mas teve também no litoral outra atividade produtiva, como o plantio de arroz e de cana-de-açúcar; este último com a finalidade de produzir a aguardente e o açúcar.
No fim do século XVIII, com o desenvolvimento da atividade mineradora na região das Minas Gerais, o sul do Brasil passou a ter grande importância na criação de gado para abastecer a região do extrativismo de ouro e diamantes.
Nesse período não havia estradas para fazer o transporte do gado que saía principalmente do Rio Grande do Sul. Foi, então, criado o chamado “Caminho das Tropas”, por onde o gado era levado por trilhas que, seguindo pelo litoral, iam até a cidade de Laguna.
O tropeirismo, trabalho de criação, condução e comercialização do gado, teve início em meados do século XVII e foi responsável pela integração entre o litoral e o primeiro planalto, ampliando o povoamento do planalto paranaense e, também, o fluxo de gado do Sul para o centro do país.
Era comum que muitos tropeiros, além de conduzirem tropas, fossem também proprietários de terras. Eles compravam os animais no Rio Grande do Sul para vendê-los em Sorocaba (SP). Cruzavam a região de Curitiba ou qualquer outro ponto intermediário entre a Lapa e Castro, e após viajar o dia todo, pagavam o uso da invernada ao proprietário, ou seja, o aluguel para o descanso das tropas.
Rota dos tropeiros
As mulas eram os animais de carga comumente escolhidos para essas empreitadas por serem bastante resistentes, terem grande capacidade de equilíbrio e por passarem por trechos difíceis com muita carga e passividade.
Um desses animais era ensinado para conduzir os demais. Geralmente, tinha--se o costume de se enfeitar a mula-guia com um penacho na cabeça, além de outros ornamentos como conchas e fitas. O animal também carregava um cincerro pendurado ao pescoço. Quanto às demais mulas, eram amarradas umas às outras pelo rabo de modo que caminhassem sempre em linha, de forma que o transporte fosse seguro.
Essa atividade foi fundamental para a ocupação e o povoamento de uma vasta área do território paranaense, hoje nomeada Campos Gerais. Nos locais onde havia os melhores pastos surgiram lugarejos que se tornaram vilas e hoje são cidades, entre as quais estão: Lapa, Jaguariaíva, Iapó (hoje Castro), Santa Cruz (atual Ponta Grossa) e Palmeira.
Dos tropeiros, herdamos muitos costumes alimentares, como o consumo do toucinho, do feijão-preto, da farinha, da pimenta-do-reino, do café, do fubá e do coité. Nos pousos, apreciava-se feijão-preto com pouco molho e com muitos pedaços de carne de sol e toucinho. Esse prato ficou conhecido pelo nome de “feijão-tropeiro” que, como antigamente, é servido com farofa e couve picada. A cachaça fazia parte do cotidiano desses homens, especialmente nos dias de muito frio ou para evitar a picada de insetos.
Entre seus principais utensílios havia uma grande sacola ou baú – em que guardavam suas roupas e outros instrumentos de valor, bem como uma sela cheia de instrumentos que se suspendia em pesados estribos. Costumava-se chamar de “malotagem” os apetrechos e arreios necessários de cada animal e de “broaca” os bolsões de couro que iam sobre a “cangalha” para guardar mais mercadorias.
Algumas profissões que conhecemos atualmente são oriundas do desenvolvimento das viagens sertanistas no estado, tais como a de rancheiro (dono de rancho) e a de ferrador (responsável) por pregar as ferraduras nos animais das tropas e que, às vezes, também atuava como veterinário). Peão era todo amansador de equinos e muares à moda do sertão.
DEBRET, Jean-Baptiste. Castro (Iapó). 1827.
Cincerro: chocalho ou sineta colocado no pescoço de um animal preso a uma coleira. É comum em bovinos ou equinos para guiar uma tropa ou o gado.
Coité: molho de vinagre com fruto cáustico espremido.